domingo, 8 de dezembro de 2013

E assim foi :o)


Na quinta-feira, dia do lançamento do livro em São Paulo, eu até achei que fosse desmaiar no Aeroporto Santos Dumont, de tão quente que estava no Rio. No avião, veio o refresco do ar-refrigerado, mas durou pouco: São Paulo estava tão quente quanto o Rio e ... choveu, choveu muito forte. Isso fez com que muita gente não tenha conseguido comparecer à Livraria da Vila.

Uma pena, mas isso não apagou o bacana do evento. Teve gente que chegou lá antes mesmo de a chuva cair, gente que a enfrentou e aqueles que apareceram depois de a chuva dar uma trégua. O resultado foi uma noite memorável, colorida por pessoas importantíssimas pra mim, gente nova muito legal, bebês dentro e fora das barrigas de suas mães e crianças de várias idades pra alegrar a festa :o)

No dia seguinte, participei da roda de mães da Matrice, na Casa do Brincar, e à noite saí pra jantar com uma amiga até então virtual (!).

Desses encontros e das intensas e incríveis conversas que rolaram, muitas novas informações, conscientizações e reflexões surgem pra mim.

Uma delas é que quando uma mulher engravida, vem na cabeça a ideia de que ela terá que parar sua vida produtiva: mais cuidados durante a gestação que podem influenciar em seu trabalho, a licença maternidade e o tempo que a partir daí dedicará aos cuidados com o bebê, em todas as suas fases. Quando ela não é empregada em algum lugar, o terá que parar permanece, diga-se de passagem.

Eu pensei desse modo nos meus tempos de gestação. Me embaralhei toda pra enfrentar esse momento, pois me pesava de todas as formas esse parar. E no momento de ter que voltar pro trabalho, com o final da licença, todas as mães me compreenderão quando eu revelar que eu queria ficar parada pra cuidar da minha filha, céus.

Parada. O que acontece com a gente, que a gente embarca tão de cabeça nesses valores inventados pela cultura, transmitidos pela mídia e reproduzidos pela sociedade? Serão esses realmente valores? O que representa esse ficar parada? Caramba, ao termos filhos e zelarmos por eles estamos exercendo uma das coisas mais valiosas que cabe a nós fazer!

Eu amo o senso crítico. Se pudesse, eu me casaria com ele (!) Mas como é difícil a gente pensar criticamente recebendo tantas informações que nos doutrinam pro lado dos interesses daqueles que querem nos ter bem domados, obedientes às suas ordens....

E é por essas e outras que percebi a dimensão política da maternidade. E o quanto ela vem sendo exercida pelas mulheres. Porque o significado de ter um filho acorda na gente coisas que estão para muito mais além do que a força da informação que nos cerca. Eu poderia aqui citar palavras como o amor, mas recorro a outras, como a responsabilidade, o compromisso, o bom senso, a integridade, esses sim valores. E nisso incluo também, claro, os pais, homens que se transformam completamente sob a égide dos mesmos sentimentos, embora eu saiba que muitas mulheres e homens têm filhos e permanecem absortos em seus mundos anteriores, sem abrir espaço pra essa revolução.

Quem me conhece, sabe que sempre procurei uma bandeira, algo pra poder balançar, algo pelo que lutar. Mas nunca me interessei suficientemente pelo que se me apresentava, pois política, pra mim, é direito e dignidade. É inventividade também. É poder de inovar, mesmo que a inovação consista em simplesmente reconhecer que aquilo de que dispúnhamos, lá atrás, é o mais genial, o indubitavelmente melhor.

A vida é dura. E qualquer vivente sabe disso.

A felicidade até existe, mas precisamos ser muito espertos para percebê-la e valorizá-la nos momentos fugidios em que ela nos visita.

E daí já tive outra ideia e vou colocar aqui um poema que escrevi para Marise Maio. Meu livro é dedicado postumamente a ela, que morreu precocemente, não sem antes me proporcionar uma amizade intensa, interrompida, recuperada e plena de admiração. Acho que o poema fala um pouquinho da maneira com que a chegada de um filho pode nos dotar para uma revolução, do jeito que uma revolução pode e deve ser:

 
Lutar não há de ser esperar
Não há de ser armado
De ser preparado, lutar

Lutar não há de ser ataque
Nem de ser defesa
Tampouco há clareza em lutar

Não é briga de foice
Nem com flores lutar não dá
Há de ser tonteira
Dúvida, vontade
Há que ter coragem, lutar.

E é isso. Nessa viagem eu me deparei com gente ativa, que luta há muito ou pouco tempo contra o engodo das indústrias de leites artificiais e mamadeiras, contra a violência obstétrica, contra a cultura que quer nos pasteurizar, contra a terceirização da infância e a infância invizibilizada, contra as tendências comerciais, em defesa de reais valores.

Não vou citar o nome de ninguém. Só mesmo dizer: muito obrigada.
(problemas com inserção de imagens me impedem de colocar lindas fotos aqui...)

2 comentários:

  1. Então, tb vou comentar anonimamente: queridona, foi uma honra e um prazer ter você entre a gente, nos dois dias! Estou relendo seu livro, refrescando na minha memória assuntos tão caros pra mim, pelo design, pela família, pelo grupo de apoio.
    Tenho certeza que sua bandeira, pela qual lutar, já está escolhida: você é das 'nossas'!!
    Que seu livro possa chegar aos 4 cantos desse país, e que venham muitos outros livros (eu posso editá-los! rsrs).
    Que todo mundo consiga enxergar os REAIS VALORES logo, nega, pq a vida tá dura...
    Há que ter coragem, lutar.
    Bjs,
    A.

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  2. Estou muito feliz com tudo, Ana. Minhas anfitriãs são pessoas valiosas e foi essencial chegar mais pertinho do trabalho de vocês. Pq computador é bacana, mas nada como estarmos juntas :o) Muitos beijos e super-agradecimentos.

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