Estes são Raphael e Ingride, alunos do curso de Design da PUC-Rio, clicados pelo pediatra Marcus Renato de Carvalho em uma das reuniões que eles tiveram para o desenvolvimento do símbolo da ABRACAM - Associação Brasileira de Consultores em Amamentação.
De onde pode ter surgido o interesse do grupo por um tema como esse, cuja importância - nesse cenário de consumo de leites artificiais e mamadeiras - tem sido uma causa quase que exclusiva dos profissionais da saúde?
A linha do tempo é assim:
1. eu estava fazendo meu doutorado sobre os caminhos tortos que o Design vem tomando ao se hibridizar com o marketing e gerar produtos com o objetivo de incrementar vendas;
2. fiz uma visita ao Instituto Fernandes Figueira pra mostrar projetos de alunos da PUC voltados para bebês internados (colchão para encubadora, de Fernando Carvalho e um folheto para facilitação de doação de leite materno), em uma reunião com João Aprígio e Mariana Ribeiro - aluna que me acompanhou, e que depois veio a desenvolver o material de divulgação da Rede Iberoamericana de Bancos de Leite Humano como Projeto-Conclusão do curso de Design;
3. seguindo para o Laboratório do IFF, Franz Novak - ao saber que eu era designer, me falou que a mamadeira era um produto muito perigoso para os bebês. Eu fiquei PASSADA, e dias depois descobri que ela, a mamadeira, poderia ser tomada como o objeto-símbolo de minha pesquisa de doutorado;
4. Saí feito uma louca pesquisando o assunto, defendi a tese "O desdesign da mamadeira" (tendo a presença luxuosa de João Aprígio na banca) e publiquei o livro algum tempo depois, com a presença luxuosa de um texto de Franz Novak na orelha e apresentação de Rosana de Divitiis, presidente da IBFAN Brasil;
5. As irmãs gêmeas Maria de Lourdes Sette e Fátima Santos decidem adotar meu livro na disciplina "Análise e produção do texto acadêmico", oferecida pelo Departamento de Letras aos calouros do Curso de Design;
6. Um dos alunos de Lourdes é Raphael (o menino que aparece na primeira foto desse post), e ela prosseguiu levando esse conhecimento às suas turmas, como demonstra a foto abaixo, do primeiro semestre de 2016, clicada após a minha visita á turma;
7. Raphael me procura em março desse ano, dizendo que quer muito trabalhar com o tema de meu livro em seu Projeto IV, e me pedindo subsídios para convencer sua equipe a fazê-lo. Marcamos uma conversa para alguns dias depois, ele trás Ingride e ela sai apaixonada pela questão;
8. Eles desenvolvem o trabalho em conjunto com Marcus Renato, me procuram eventualmente para discutir layouts e o apresentam finalizado às professoras Cláudia Bolshaw e Vera Damazio, diante dos colegas de turma, eu e Marcus. Tiraram um redondo DEZ, e
veja aqui a apresentação do projeto.
Bom, o projeto acabou não sendo adotado pela associação. Incomodou o fato de a equipe ter entendido que seria um caminho coerente partir do símbolo do órgão internacional para a definição do nacional. E foi justo essa escolha que me encantou... uma escolha tão respeitosa ao movimento mundial...
Mas nada foi perdido, só ganhamos, todos!
Outro dia Raphael veio falar comigo no campus, do quanto eles cresceram, do quanto foi incrível desenvolver o projeto, do quanto adquiriram em sensibilidade, conhecimento, prática, maturidade, conscientização, capacidade crítica e criativa.
E eu fico aqui pensando: me doeu descobrir tudo o que descobri sobre a mamadeira, mas às vezes, ao encarar um verdadeiro touro, podemos colher muitos louros, e como os tenho colhido :o)
Parabéns, queridos, esse conhecimento vale ouro!