sábado, 5 de novembro de 2016

Pensemos no futuro




Existirá uma fronteira máxima que delimite até onde podemos ir na prática de delegar às coisas/produtos a responsabilidade por executar ações que estamos capacitados a realizar?

Pensar à frente sempre nos conduz a cenários maniqueístas: ou nos deliciamos com nossa criatividade, em rota de livre e mirabolante expressão, ou nos alarmamos com o resultado da multiplicação exponencial dos problemas atuais. Acho que ambos os exercícios são necessários e muito úteis.

O problema está, eu acho, no fato de que não temos feito esses exercícios devidamente. Se as inovações tecnológicas vão chegando aos poucos, seduzindo a gente com seus apelos de modernidade e sempre propondo facilitar nossas vidas mais ainda, o futuro vai como que entrando em nossa corrente sanguínea e como que anestesiando nossas habilidades em realizar coisas simples, para as quais estamos plenamente capacitados.

Foi isso que percebi ao compartilhar no Facebook um vídeo (ver inteiro) sobre o berço The happiest baby, desenvolvido pelo pediatra Harvey Karp e pelo designer Ives Béhar, no MIT Media Lab (!!!!!) Eu estava horrorizada com o produto, assim como alguns amigos que compartilharam o post. Mas foram tantos os comentários positivos que o produto ensejou nos perfis deles, que tive que parar pra pensar no assunto.

A hora de dormir tende a ser um momento quase sagrado pras pessoas, antecedido por cuidados e rituais que antecedem o momento de a gente se desligar, descansar o corpo e lidar com sonhos.

Colocar bebês e crianças pra dormir me parece um momento mais sagrado ainda. Ainda hoje me lembro de minha mãe me tirando do início do sono porque eu não havia escovado os dentes. Ela me apoiava pelos braços e, concluída a tarefa, me devolvia pra cama com um beijo (juro que essa é pra mim uma memória deliciosa ahahah). Reproduzi isso com minha filha. Com ela, desde que era bebê, praticamos um embalar musical, discos ótimos, dança gostosa no colo. Quando foi crescendo, ela deitava no sofá com a cabeça em nosso colo, ora eu, ora meu marido, som na caixa e o sono vinha gostoso com um cafuné. Até que ela ficou tão grande e pesada que o pai deliberou: agora precisamos ter um equipamento de som no quarto dela! Isso pra não dizer das histórias dos livros, lidas em capítulos delimitados pelo fechar dos olhos dela, cuja continuidade era uma sedução pra hora de dormir do dia seguinte. Muitos, muitos livros. E nas noites mais difíceis, um conselho que rezava em si pra dar certo: filha, pensa em coisas boas :o)

Daí, me diz: você também não tem um monte de lembranças sobre a hora de dormir? Elas não têm um "Q" especial, ao menos algumas?

Agora considere embrulhar seu bebê do jeito que esse berço recomenda, todo amarradinho, e soltá-lo nessa máquina-de-fazer-dormir... E diga-se de passagem que ela deve custar os olhos da cara!

Olha, podia ser de graça que eu não a trocaria pela delícia de embalar uma criança, devagarinho, curtindo esse contato tão fundamental pro seu futuro.

Futuro?

As inovações tecnológicas, todas, têm seus prós e seus contras. Recomendo não se anestesiar do sentimento, do compromisso, do amor, do contato e do carinho.

E pra quebrar um pouco essa coisa idílica da minha visão, um pouco de realidade  pelo humor dessa mãe que permite com que nos identifiquemos com os problemas corriqueiros da maternidade.

Que tenhamos todos noites muito gostosas, como devem ser.





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